segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

A Unha assassina

Estava no metrô quando minha unha do pé, que estava encravada, começou a doer. Era uma dor maldita dentro do meu escarpan caramelo. Estava na Glória e desceria na Tijuca. Glória eu pedia aos céus para que aquela máquina andasse mais depressa que de costume. A dor era grande mas mesmo de pé eu aguentava. Tudo poderia ter acabado bem se não fosse aquela velhinha entrar na Uruguaiana. A dona veio em minha direção cheia de bolsas e a infeliz não viu meu pé. Foi a conta del amassetar meu escarpan para achatar minha unha com sua anabela azul. Ela consegui acordar a fera que dormia coberta pela tri-fill dourada. Minha unha se levantou, rasgou a meia, arregaçou a ponta do meu escarpan e voou na velhinha. Eu estava com as minhas mãos suspensas segurando na barra de ferro e lá fiquei atônita com a reação da minha unha. A velhinha gritava e meu pé conduzido pela minha unha, mordia a cara da velhinha que gritava feito louca. Eu ainda pedi para que ele parasse, mas ele não me deu ouvidos. As pessoas que se encontrava no vagão correu para o canto deixando a velha e meu pé na arena. Eu também apavorada me segurava cada vez mais forte no ferro, pois meu pé tinha vida própia. A unha acabou por dilacerar a velhinha quando chegamos na Tijuca. Desci correndo arrumando meu vestido sem um pé de sapato que ficara na boca da velhinha estirada em meio a sacolas de canudinhos de doce-de-leite.

Rio de Janeiro,20 de agosto de 1999.

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