segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

cirurgia caseira

Um belo dia resolvi arrancar meu coração. Enfiei a mão no peito e puxei o danado prara fora de uma só vez. Peguei o orgão que pulsava e coloquei em cima da mesa da cozinha e fiquei olhando para ele tentando obter algumas explicações. Peguei uma faca e fui abrindo a pele da carne por cima com cuidado, pois não queria machucar mais do que estava. Fui bem minucioso. Logo por cima deparei com uma coisa estranha. Parecia um nervo e era. Nele estava escrito: infância. Com muito carinho empurrei com um dedo o nervo para o lado e continuei cortando. Logo a baixo havia um embrulhinho de veias meio emaranhado e nele estava escrito: companheiros da minha vida. Confesso que retirei algumas veias e as joguei fora sem o menor pudor. Eram veias que só obstruiam algumas passagens.
Continuando a destrinchar encontrei o medo passeando como quem não quer nada por sobre o músculo. Com meu polegar e o fura-bolo apertei até o esmagar. Senti um alívio imediato. Quando chegava ao meio certo a faca parou e não conseguia mais cortar. Fiz força e só consegui obter alguns dentes na faca. Não desisti. Peguei uma espátula e fui cutucando bem lentamente até que consegui arrancar uma pedra dura do fundo do meu coração. Era uma pedra bruta e negra como turmalina. Nela quase que invisível estava escrito: amarguras. Então fui até a janela e lancei a pedra a milhões de distância do meu corpo. Logo depois de restaurar meu coração o coloquei de volta no peito e cirzi cuidadosamente para não deixar marcas.
Hoje depois de tempos do feito penso porque naquele dia em que resolvi restaurar meu coração não aproveitei para colocar no cantinho junto a uma das tantas pequeninas veias que retirei um vaso escrito amor.

Rio de janeiro, 18 de agosto de 1999.

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